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Memórias do Campo | A história da minha família

Por: João Lamarque de Almeida
12/11/2019 11:00
Arquivo Família Dalla Líbera O casal Dalla Líbera com seus seis filhos O casal Dalla Líbera com seus seis filhos

Por volta dos anos de 1870, um casal de nome Isidoro e Úrsula Dalla Libera, saíram de uma província da Itália e vieram para o Brasil. Partiram com várias famílias e a viagem não teve custo, uma vez que paga pelo governo italiano e tendo a duração de aproximadamente quarenta dias por via marítima.

Durante a viagem, aconteceu uma desgraça: perderam uma criança de dois anos e tiveram que fazer o sepultamento nas águas do mar. Chegaram ao Brasil no antigo lugar chamado “Cruzeiro e Dona Isabel”, hoje Bento Gonçalves (RS). Não houve a preocupação em comprar as terras do governo Dom Pedro II, que doava uma colônia de terra a cada família de imigrantes. Naquela época, era algo comum as famílias terem muitos filhos.

Isidoro e Úrsula tiveram filhos no Brasil e um dos últimos foi o Carlos Dalla Libera. Aos 20 anos de idade, Carlos casou com a jovem Maria Machiulevers, que nasceu no Brasil e tinha pais imigrantes russos, que eram da divisa com a Polônia. O pai chama-se Casemiro e já sua esposa, não sei o nome. Apenas sei que era apelidada de Nona Polaca. Tenho certeza que os três filhos eram de naturalidade estrangeira: Catarina, Blades e Ana, que foi mãe dos irmãos: André, Domingos e Adolfo Lunardi. Ana e sua mãe, a Nona Polaca, moraram e morreram em Xaxim.

O primeiro filho de Carlos Dalla Libera e Maria Machiulevers foi o Ricieri, que nasceu em 1911. Após o nascimento de uma criança, era costume, se era menina, comprava-se uma máquina de costura e se era menino, comprava-se uma colônia de terra. Carlos saiu junto com os Lunardi com mulas de Veranópolis (RS), naquele tempo era Roça Reúna, depois Alfredo Chaves, com destino a Chapecó a fim de comprar uma colônia de terra, que hoje é a Linha Limeira, em Xaxim. O Carlos aproveitou a viagem comprou três da Colonizadora Irmãos Lunardi: os lotes de nº 1, 3 e 5 da linha. Naquele tempo, Linha Limeira fazia divisa de Xaxim e Chapecó, pela Linha Seca, também fazia divisa de Limeira e Carola maia. Hoje, essas terras são de propriedade dos herdeiros do saudoso Ricieri.

No ano de 1932, Ricieri casou-se com a jovem Delicia Boff, também filha de imigrantes italianos. O casamento aconteceu no dia 10 de agosto, quando aproveitaram a visita do padre que veio da Paróquia Tosário de Guaporé, na capela da igreja de Linha 11, hoje Serafina Corrêa. O dia foi de muita chuva e o transporte foi a cavalo, tinha mais de 10 quilometro de distância.

Passados quatro anos, Ricieri e Delicia tinham uma menina de dois anos e Delicia estava grávida de seis meses. Assim, resolveram se aventurar em Chapecó, muitos que não acreditava no futuro de Chapecó diziam “Chapecó, andove que il diavolo il gliá persoi stivai, Santa Catarina il, diavolo que la strassina!”. Em português, significa “Chapecó é onde o diabo perdeu as botas, Santa Catarina que o diabo a carregue”.

Saíram da linha 13, passando por Guaporé, hoje Serrafina Corrêa, com carroça de mulas, em companhia de um outro casal, Oreste e a esposa Eulália Lazzaretti, com duas crianças chamadas Zefira e Elgidio. Aquele casal trabalhava como caseiros dos lotes nº 01 e o 03 do pai do Ricieri, não ganhavam nada e não pagavam renda da lavoura, mas junto com o Ricieri construíram um parreiral com uma área de mais um hectare.

A viagem durou 13 dias até Chapecó e fizeram a última parada no outro dia. As mulas estavam bem cansadas e chegaram em Xaxim ao anoitecer e de Chapecó a Xaxim, só encontraram um homem a cavalo. De Xaxim em direção às terras, eram 8 quilômetros. Mas a carroça andou só 6 quilômetros e eles ficaram na casa do saudoso Fiorindo Ogliari que tinha um alambique de cachaça. Eles ficaram lá o tempo que fizeram o resto da estrada. Em relação à nova casa, só compraram os pregos, o assoalho era de chão batido, o teto era de tábuas pequenas lascadas de pinho. Como nas terras não tinha pinheiros, eles foram à propriedade da nona Anita Moráz (in memoriam), porque lá havia bons pinheiros para as pequenas tábuas. Hoje, é onde hoje mora o neto da nona Deoclécia Moráz e seus familiares.

Quanto tempo eles ficaram morando de maneira provisória, eu não sei, mas sei que em 06 de novembro de 1936, nasceu o segundo o segundo filho do casal Dalla Líbera, o Carlos foi a primeira criança a nascer na Linha Limeira, Sei que eles foram morar na beira do rio, ainda a água puxava de madeira dizia “lle seggie” a uns 100 metros. E ainda tinha que atravessar o rio na terra de José Gabriel, hoje de propriedade de Gumercindo Biffi.

As roupas eram sempre lavadas no rio e a água para os porcos se puxava de baldes do rio até o chiqueiro. Em 1950, o saudoso Ricieri gostava muito de engordar porcos na roça, tipo “safrista”. Em dias de colar os porcos, removeu a terra úmida e fresca e apareceu um olho d’água. A vertente não era forte e havia outro olho de poço, com uma forquilha de rama de pessegueiro, avistaram uma água muito boa que nascia na rocha. Até hoje esse poço é utilizado.

Por conta da distância da velha e nova residência, durante a construção fomos morar no paiol. Eu tinha seis anos e hoje tenho uma boa memória, a casa nova foi construída é a mesma que meu irmão Carlos hoje mora. Ela foi restaurada, mas a parte da base é a mesma, com madeira dura de lei com de 10 metros de comprimento inteira, cortada a machado, em barrotes cerrados de pinheiro de 7m e 50cm de comprimento.

Foi um ano muito movimentado para a família Dalla Líbera. No dia 06 de fevereiro, morreu meu pai Ricieri, com apenas 69 anos. Nesse mesmo ano, Carlos se casou em 28 de julho. Foi quando eu deixei a querência e fui morar em Xanxerê, por motivos de saúde. Foi no mesmo ano que a frase da Campanha da Fraternidade era “Para onde vai?”. Eu deixei Xaxim, mas não me esqueci da querência e com a coluna no valoroso Jornal LÊ NOTÍCIAS, fecho a de número 100. Agradeço à família Schettini pelo espaço e também aos antigos funcionários da empresa.

Os descendentes dos imigrantes de bisavó Casemiro, avô Carlos e o pai Ricieri. Natalina ficou viúva, era casada com Otaviano Bernardi, mora em Xaxim. Carlos é casado com Ana Testa e vive há 83 anos na casa que era dos nossos pais. Elza ficou viúva, era casada com Fidelis Tonini e hoje mora em Ponta Grossa (PR). Dorina é casada com Antenor Lunardi e mora em Marema. Luiz é casado com Pierina Matiello e mora em Xanxerê. Apesar de três irmãs viúvas, ainda cada um perdeu um filho. Mas os seis irmãos, todos estão vivos e com boa saúde e isso é uma dádiva de Deus.


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